Eu sempre quis ser escritora.


Talvez porque sempre me pareceu fácil escrever. Você tem a idéia – um milhão delas, pra quem pensa na velocidade doente que eu utilizo- e passa pro papel com um pouco de estilo.
Esse pouco de estilo é que me diferencia do Hemingway ou do Caio Fernando de Abreu.
Enfim, quando você passou dos quarenta anos , as idéias e as vontades adquirem um gosto urgente que logo vira desgosto e frustração.
OK, mais uma coisa que eu não fiz.
Não virei cantora, não fui à Europa de mochila, não fiquei famosa nem rica, nem emagreci.
Aí já começa aquela preguiiiiça que me persegue sempre que eu imagino que o ponto de partida está bem na minha frente.
Você já sonhou com a imobilidade? Sabe aquele desespero (a-do-ro essa palavra) que dá, você querer levantar, sair correndo e não poder se mover? Aquele peso hipnótico aquela letargia sem controle?
Tenho um problema sério com pontos de partida.
Aliás, se for considerar mesmo a questão dos meus problemas sérios, vou sair do Word e abrir uma planilha no Excel.
Enfim, ainda podia escrever alguma coisa, mas não me acontece nada de espetacular. Como não acontece com você também.
Por outro lado as grandes desgraças também atravessam a rua antes de chegar à minha casa.
Não vamos reclamar.
Se a gente consegue amar alguém e se casa com essa pessoa, o tempo passa e você já começa a desconfiar. Eu tenho quase vinte anos de casada e ainda me pergunto se eu sou feliz porque sou idiota e não tenho nenhuma perspectiva amorosa inovadora que meus muitos quilos não afugentem.
Existe ainda a possibilidade de ser feliz porque ele é legal e me ama (mas ai como é medíocre a crença simples na felicidade).
Eu tenho uma amiga que não casou e acha que isso justifica todas as prescrições de antidepressivos que ela possa ingerir. Ela mora bem, tem uma filha ótima e um emprego chaaaato, mas que paga muito bem e tem um plano de benefícios capaz de abranger as cáries do zelador do prédio dela.
Mas ela sofre, e definha. Uma coisa impressionante.
Porque a gente nunca está satisfeita?
Eu morro de medo de dar uma virada e acabar sem meu santo e sólido e seguro casamento.
Mas isso é porque eu sou louca, venho de uma família de loucos infantis, que não amadurecem e acabam todos sós.
Minha outra amiga que é a pessoa mais sábia do mundo (e para meu total espanto, ainda assim é minha amiga) diz que eu sou louca mesmo, mas que sou diferente dos meus lunáticos familiares e que esse medo é bobagem.
E minha outra amiga que fez um monte (aquele) das coisas que eu não fiz, acabou um casamento infeliz que vinha se arrastando, mas que qualquer uma manteria tranquilamente de tão confortável que era. Quando ela me disse, pela primeira vez, que estava pensando em se separar, eu fui contra, achei precipitado (tenho montes de amigas que se separaram num rompante, e agora estão ainda mais infelizes).
Mas a coisa tomou forma, e ela foi se soltando, e agora eu olho e acho tão especial poder recomeçar...Mas eu nasci em março, não posso evitar pensar que virá, com o estômago aos saltos.
Será que é mesmo impossível ser feliz sozinho?
De qualquer maneira, depois de tanto digitar, cheguei a duas felizes conclusões: não sofro de grandes causas e tenho três grandes amigas.
Isso já garante uma vida com bastante estilo!

Comentários

  1. Elaine,
    Como vc mesma disse, eu sou suspeita para falar sobre os seus textos.
    Você pode não ter virado cantora, não ter ido à Europa de mochila, não ter ficado tão famosa (para mim vc é, afinal teve várias aparições na TV), não ter ficado rica (uma pena!), nem ter emagrecido (tb com tantos doces maravilhosos!), acredito que fez tudo o que tinha vontade...Até casar de preto no dia das bruxas.
    Na minha opinião isso que importa.
    Acredito que é melhor acordar arrependido do que dormir com vontade.
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Querida Lesmadesofá,

    A-do-ro o que você escreve!

    ResponderExcluir
  3. Sábia e amada Guru,
    Que bom que vc não citou o nome das suas 3 amigas, senão ia voar pena prá tudo quanto é lado.
    Assim, todas suas 327 amigas, acham que são 1 delas.
    bjbjbj
    Reco

    ResponderExcluir
  4. É impossível ser feliz sozinha. Ninguém consegue, nem sei porque tentam.

    Mas, por outro lado é possível ser feliz sem casar; é possível ser feliz sem namorar; sim, é possível. Porém o que torna isso possível é justamente estar cercada de pessoas que te abasteçam de laços afetivos significativos. Amigos, esses são necessários sempre, o resto? O resto é sempre relativo.

    No entanto, se você ama e é amada e vive uma relação que te nutre, porque abrir mão? Se um dia eu achar alguém que me faça sentir assim, caso, caso sim. Só não quero fazer isso e me dar conta que o que fiz foi trocar meia dúzia por seis, sabe como é?

    Por isso muitas vezes quem se separa se desespera: tudo tem um preço...

    Beijo!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários anônimos são coisa de gente i-di-o-ta, e serão apagados.
Tome coragem, baby!
Assine!!

Postagens mais visitadas deste blog

Meu discurso pra colação de grau.

O maior idiota da Grécia

Ai o amor...