Adeus, Anarquista.



Há pouco, morreu a Zélia Gattai. Junto com Isabel Allende, formava minha dupla de escritoras predileta, daquelas que eu comprava qualquer livro que saísse sem me importar em dar uma lida antes. A escrita delas é bem parelha, as duas escrevem sem nenhuma pretensão e eu ouvia uma voz amiga balbuciando suas linhas, a cada vez que folheava os Contos de Eva Luna ou as histórias de Zélia e Jorge.


Minha mãe encontrou os dois uma noite na França e disse que foi uma das coisas mais bonitinhas que viu na vida: os dois de braços dados andando pela praça conversando e sorrindo.
Eu – que sou uma anta desmemoriada – também tenho minha história com a Zélia:

Onde hoje é a FNAC de Pinheiros, anteriormente era o Shopping Cultural da Ática (que eu preferia mil vezes). Lá eram realizadas as festas de entrega do Prêmio Jabuti. Numa dessas noites, o Caio foi receber o prêmio por algum autor na Rocco que estava no exterior e eu fui com ele. Tava um frio infernal. O cocktail rolava no último andar e a mulherada tinha caprichado mais que o de costume nos decotes, jóias e perfume, tava duuuuro...
O Caio foi fazer alguma coisa que eu não lembro e eu sentei num banco na ponta de uma gôndola de livros. Chegou uma velhinha de cabelinhos curtos, sentou do meu lado e começou a puxar conversa. Ficamos conversando muito tempo, falando das peruas exageradas, dos livros e dos maridos. Ela reclamou que tinha vindo só pra São Paulo, que o marido estava doente e ela não via a hora de voltar, já que ele não ficava bem com mais ninguém. O Raí parou bem na nossa frente pra conversar com um jornalista e nós soltamos o mesmo suspiro..foi muito divertido.
Eu achava que conhecia, mas não imaginava de onde...


Só me toquei quando chamaram o nome do vencedor daquele ano em alguma categoria super especial e ela levantou pra receber em nome do tal marido doente, Sr Jorge Amado!


Sobre ela. ele escreveu em Navegação de Cabotagem:


"Ainda meio dormindo, ás vésperas dos oitenta anos estendo o braço, toco teu corpo, sinto teu calor, tua respiração. Amanhece, a luz do novo dia desponta tênue na barra da manhã, penso nos privilégios que tenho, mordomias. Teus olhos, teu sorriso, os seios, o ventre, a bunda, o coração, a inteireza, a decência, a mansidão, o devotamento. A vida nasce de ti na madrugada"


Agora eles poderão voltar a andar de braços dados, trocando sorrisos enquanto colocam o assunto em dia.

Comentários

  1. Se Zélia e Jorge vão se encontrar no paraíso, posso até sorrir com a triste ida dela para o outro mundo.
    Amei os textos! Esse e o anterior...
    Beijinhos e amores!

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  2. Eu ontem mesmo fui ao seu blog, assim que vi a notícia do falecimento. sabia que Você diria algo, só não achei que tão rápido. E, como sempre, um belo texto. Bela também a estória do encontro. Beijos mil.

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  3. Tem certos encontros que não damos conta de sua especialidade.

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  4. MEnina, adorei suas palavras! Só conheci seu espaço hoje, mas já virei fã. Beijos e muitas saudades
    Quando será que iremos nos ver de novo e juntar as B1s?

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  5. Não li Zélia e comeceia ler Isabel Allende há pouco tempo... Porém e apesar de, Zélia sempre me encantou enquanto mulher.

    Beijo!

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  6. Ai fiquei mal quando soube da morte dela. Mas que ainda qro um amor Jorge Amado e Zelia Gattai na minha vida quero muito, era a coisa mais sublime do mundo. Soh de olha-los já era apaixonante.

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  7. Ai fiquei mal quando soube da morte dela. Mas que ainda qro um amor Jorge Amado e Zelia Gattai na minha vida quero muito, era a coisa mais sublime do mundo. Soh de olha-los já era apaixonante.

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  8. Que texto mais lindo!

    Lindo e meigo o amor deles.

    Eu leio tooooooodos os livros da Isabel Allende too...

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  9. adivinha se não chorei...

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