Vede o pé do Ypê...



Não é a primeira vez que eu sento aqui pra escrever sobre uma coisa e escrevo sobre outra completamente diversa.
Tencionava escrever sobre o quanto eu gosto de rever alguns filmes e seriados pela sensação nostálgica, pela memória contextual que a gente revive, mas fui atropelada por uma música maravilhosa.
Tava aqui agradecendo aos deuses pelo frio úmido e maravilhoso deste começo de noite, e lendo a coluna do Matthew Shirts de hoje. Na coluna, (sobre um percurso de ônibus) ele cita preciosidades dos anos 80, e entre elas um romance do Reinaldo Moraes chamado Tanto Faz.
Na hora eu lembrei desse livro, e fui procurar, morrendo de medo de ter emprestado pra algum amigo que não me tivesse devolvido. Mas tava lá (ainda bem que eu não emprestei pra ninguém, vivo perdendo livros que empresto).
Enfim, abri o livro (que foi comprado em 1983, na extinta Livraria do Bexiga – que ficava na esquina com o Café Soçaite) e dei de cara com um verso que escrevi na primeira página, de uma canção do Belchior.
O cara é de uma poesia impossível.
Eu lembro a força das letras dele e o entusiasmo que dava quando a gente tinha 13, 14 anos e se esgoelava cantando Como Nossos Pais, Velha Roupa Colorida ou Na hora do Almoço (que era sempre a segunda música que se aprendia no violão, a primeira era a do Vandré).
Tudo outra vez ou Todo sujo de batom são textos maravilhosos (e são tantas as letras maravilhosas dele que eu nem vou me dignar a ficar listando).
O cara nasceu em Sobral, trabalhava na feira, ralou pra entrar na faculdade de medicina e quando entrou, largou tudo pra viver de música.
Ele sempre aparece de cachecol nos shows. Deve ser coisa que gente que vivia num lugar quente feito o Ceará achava bacana, mas não dava pra usar! Eu fui a muuuuitos shows dele e adorei cada um. Uma amiga minha me provocava dizendo que aquele bigode dele escondia uma cicatriz de lábio leporino... aiai.

Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes (só chique assim pro cara usar o imperativo afirmativo numa música...)

Contemplo o rio que corre parado
E a dançarina de pedra que evolui
Completamente sem metas, sentado
Eu não tenho sido, eu sou, não serei, nem fui
A mente quer ser, mas querendo erra
Pois só sem desejos é que se vive o agora
Vede o pé do Ypê: apenasmente flora
revolucionariamente apenso ao pé da Serra.

De minha parte, eu faço coro com a Rita Lee e pergunto:
“Ai meu Deus, o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?”

Ps: As duas últimas linhas da música – que por sinal chama Ypê – são as tais que eu escrevi na primeira página do livro.

Comentários

  1. ACABO DE COMEÇAR O CRESCIMENTO DE UM BIGODÃO.!!!!

    ResponderExcluir
  2. Há quem goste e ache o cara meio brega, meio in.
    Mas há quem tenha sensibilidade, bom gosto e inteligência pra discernir os valores das coisas.
    Sempre maravilhosa.
    saudade

    ResponderExcluir
  3. Simplesmente magistral:

    "Vede o pé do Ypê: apenasmente flora, revolucionariamente apenso ao pé da Serra."

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comentários anônimos são coisa de gente i-di-o-ta, e serão apagados.
Tome coragem, baby!
Assine!!

Postagens mais visitadas deste blog

Meu discurso pra colação de grau.

Minhas maluquices particulares

O maior idiota da Grécia