Vascolejando o léxico.


Palavras.

A fonte maior.
Não fossem elas, e a arte de usar cada uma em um devido lugar e ordem, que graça teria a gente se meter a escrever?
Mas há algumas que a gente não pode mais usar.
Um autor nosso, mandou um original pra eu revisar, cheio de entidades.
Tive que substituir cada uma e mandar uma ressalva ao coitado, pedindo pra esquecer as ditas cujas.
Entidade perdeu completamente o significado de pessoa jurídica e de qualidade excepcional, para virar santo baixado em alguma coisa ou alguém.
As entidades, antes conceituadas, agora estão condenadas às mesas brancas e terreiros em geral.

Irmão e irmã (irmãozinho e irmãzinha), viraram propriedade dos evangélicos, que se apropriaram não só da palavra mas do sentido. Usurparam até o termo Senhor Jesus; que hoje remonta diretamente às chatas de saias azul marinho que tentam fazer lavagem cerebral de porta em porta. Ai que raiva.

Graças ás legendas e dublagens mal traduzidas, vadiar virou prostituir-se.
Minha bisavó tinha uma arara, e se referia a ela como animal maneiro (de vir comer na mão), maneiro hoje só serve pra texto da Malhação com aquele insuportável sotaque carioca.

Tem aquelas com as quais a gente implica: eu odeio a palavra escroto, não falo e me arrepio só de escrever.
A Sophia, quando era pequena, não podia ouvir babaca.


E tem as que a gente inventa. Essas são ótimas! Eu sou (junto com a Gianna) criadora e usuária contumaz da terminação ura.
Muito bonito é uma bonitura.
Muito chato é uma chatura.
E por aí vai ...
Diminutivo de nuvem? Nuvinha!
A Sophia inventou a fofuce.
Quem é fofo faz fofuces.

Eu escrevo pra uma revista adolescente, e como tal, uso e abuso do óóótemo, muuuuuuuito e supermegamulti... É uma delícia escrever assim!

É preciso alguma intimidade e liberdade pra poder brincar com as palavras.

Palavras têm (esse acento vai dançar após a próxima reforma gramatical – que merda) o poder de enlevar ou derrubar vertiginosamente o escrevente ou escritor.
O termo “escolhendo as palavras” confere cautela, mostra preocupação com o conteúdo; é o máximo! Todos deviam escolher bem as palavras.

O Caetano é mestre em brincar com elas e desenterrar algumas esquecidas (como quando chamou a vida de tacanha na música tema de Tieta). O Chico também domina, mas o Caetano como criador infinitamente mais pop, cumpre essa função de desempoeirar o léxico!

Crista do desejo o destino deslinda-se em beleza: Outras palavras

Adoro sublinhar, enfatizar, e trabalhar com elas.
Grande amigas as palavras.


beijinho pra Tânia Sandroni, que inspira o cuidado com o texto e a paixão pela palavra bem escolhida.

Comentários

  1. Você, como boa jornalista que é, tem o total domínio das palavras e escreve tão gostoso que a gente não para de ler até o ponto final do texto. São poucas as pessoas abençoadas assim, eu conheço duas: você e o nosso amigo querido, Geraldo Anhaia Mello. Intimidade e liberdade pra poder brincar com as palavras vocês têm de sobra! Que sorte a minha!

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  2. Quem pode pode.
    A gente chega a ter inveja de tanto talento. Mas é mais admiração que talento.
    Muito mais!!

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  3. Ai Elaine, não aguento mais comentar que adoro seus textos, mas....não tenho como dizer outra coisa.
    Adoro cada palavra e acho tudo uma fofuce!
    Beijos e saudades

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  4. Eu também invento palavras... =]
    Muito bonito é bonitesa
    Muito chato é chatonildo

    e por aí vai o meu vocabulário =]

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  5. Estilo & Inteligência.
    Você vicia a gente Elaine.

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  6. Adorei a bisa que falava animal maneiro.
    Para minha vó, certas coisas eram muito cacetes, que caceteação...
    Adorei
    Beijos
    Reco

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