Sócrates & Antígona e os brasileiros

Sócrates era um filósofo diferente. Foi artesão e militar (lutou na Guerra do Peloponeso). Andava por Atenas e falava com quem quisesse ouvir. Era dele a máxima “só sei que nada sei”. Claro que um cara ponderado, sábio e com capacidade de influenciar as pessoas logo virou um enorme incômodo e ele foi acusado de ateísmo e corrupção de menores. Sócrates foi condenado por um juri de 501 cidadãos atenienses. Ele podia escolher o exílio, o pagamento de uma multa ou a pena de morte. Pra ele, qualquer apelação significava aceitar as acusações e ele preferiu a morte. Ele bebeu cicuta, se lavou como indicaram, deitou para que o veneno fizesse efeito direito e morreu como esperado. Antígona era fruto da união incestuosa de Édipo e Jocasta. Dois irmãos de Antígona haviam morrido numa Guerra recente e apenas um deles, que defendia o trono de Creonte (seu tio) recebera a autorização para honras fúnebres. O outro irmão lutara contra Creonte e não lhe foram concedidas as honras. Naquela época, morrer sem ser devidamente velado e enterrado era uma condenação eterna e ela desobecedeu as ordens expressas do tio e autorizou a cerimônia fúnebre. Quando Creonte soube disso, condenou Antígona à morte por emparedamento. Ela reclamou? Não. Antígona achava que fazia parte de uma família maldita, fruto de um ventre incestuoso. Os irmãos estavam todos mortos, a mãe se suicidara e Édipo, banido (após arrancar os próprios olhos, quando descobriu que era filho de Jocasta). Creonte era o Rei de Tebas e ela aceitou seu destino. Duas tragédias pra gente pensar no respeito às instituições. Nem sempre o que a gente quer é o que a maioria quer, ou o que as instituições, com sua autoridade reconhecida e atribuída democraticamente, determinaram. Tem hora que é preciso aceitar decisões que não são nossas. Não adianta ficar argumentando, inventando como conseguir o resultado que se quer. Há que se ter maturidade. Refletir e ver o que foi feito de errado, corrigir a rota e tentar fazer melhor. As coisas não se resolvem hoje e de qualquer jeito. Saber perder, reconhecer e tocar. Isso serve pro caminhoneiro, pra dona de casa, pro jornalista, pro deputado e pro presidente de partido... Serve pro Brasil.

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