Shakespeare, Pégaso e a Páscoa

Lear, rei da Bretanha, resolve passar o trono adiante e, pra decidir como fazer a divisão, pede que as filhas expressem toooodo o amor e gratidão que sentem pelo vaidoso pai. As duas mais velhas (Goneril e Regan) se derretem em adulações e promessas, enquanto a mais nova, Cordélia diz algo como “meu amor é silencioso e autêntico, não vou enganá-lo”. Convencido de que amor bom é o amor que reluz, Lear trata de expulsar Cordélia do Reino, sem herança nem boa noite. Ele monta um esquema de previdência que inclui cem servos e outras benesses (que as filhas aceitam sem piscar) e entrega a coroa. É claro que as duas, rapidamente, cansam de adular um cara que nem é mais rei e mandam Lear plantar batatas. Ele acaba enlouquecido, acompanhado do bobo e de Edgard (filho ilegítimo de um dos nobres do reino - aqui temos tramas paralelas muito boas, mas complicadas). Cordelia o encontra e o perdoa, como era de se esperar. As irmãs já tinham armado pra Cordélia- que morre enforcada. Lear morre logo depois. Todos foram condenados pelo desejo do excesso de amor e garantias de Lear. Mas quem nunca, né? Antes de morrer, ele passa por uma quase humanização, com um aumento de percepção em relação aos outros e quebra daquele orgulho imenso. Mas não foi o suficiente. Como ele mesmo diz, Cordélia nunca mais (ele repete cinco vezes) vai respirar. Lear é (também) sobre lidar com o que temos, com o que somos, e não com o que brilha demais e promete, promete... A gente tem que aprender a lidar com as coisas. Não adianta apostar em pose, em follows, em adulação. Essas coisas, realmente não se mantém, são um tremendo erro de julgamento. As coisas boas (permanentes) aparecem de onde a gente menos espera. Já contei quem saiu da cabeça cortada da Medusa?? O Pégaso! (saiu um cara também, o Crisaor coitado, que nunca mais apareceu em nenhuma história). Pois o cavalo alado, símbolo da pureza, saiu do lugar mais insuspeito. Por isso, mesmo que canse, que o retorno pareça não vir; a esperança tá aí. Ela renasce e renasce e a gente tem que tirar a danada de qualquer lugar. Aliás, a Páscoa não é sobre esperança e renascimento? Pois então.

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